Bom, muito se falou ontem a respeito sobre o passageiro que foi arrastado para fora da aeronave pela United, e aqui friso “pela United”, pois quando a segurança é chamada para qualquer avião, de acordo com a lei norte-americana, aquela age em nome da cia aérea, e não da sociedade.
Nesses casos é sempre bom esperar um pouco para a revelação de todos os fatos para que não se meta os pés pelas mãos como fizeram alguns blogueiros norte-americanos, o que é digno de nojo, pois defender a cia aérea num caso desses é defender o “autoritarismo” a todo custo. Mas por que o blog afirma isso?
Primeiramente vamos aos fatos já devidamente apurados, e confirmados:
1 – Voo não tinha overbooking inicialmente;
2 – Todos os passageiros foram embarcados devidamente;
3 – 4 funcionários da United chegaram a minutos de fecharem a porta do avião alegando que precisavam embarcar naquele voo;
4 – O agente do portão de embarque procedeu ao avião e ofereceu compensação para 4 passageiros, porém ninguém aceitou, sendo o valor máximo oferecido 800 dólares;
5 – De acordo com o agente o computador “sorteou” 4 passageiros, sendo que 3 saíram e um se negou, pois alegou ser médico, e ter pacientes para atender na manhã do dia seguinte;
6 – Após tentativa de acordo, a United ordenou que ele fosse removido do avião*;
7 – O passageiro foi arrastado para fora do avião.
Então, vejam bem, é super importante ressaltar que NÃO houve overbooking em qualquer momento, e isso de certa forma é o que estão jogando para ver se cola. Overbooking ocorre quando se vende mais assentos do que o avião possui, o que claramente não foi o caso.
A situação no caso foi o “desembarque forçado” por motivos próprios da empresa aérea, o que está previsto no contrato de passagem nos EUA, pois lá a cia aérea pode se negar em qualquer período a prestar o serviço de transporte aéreo por 2 motivos, um por necessidades da empresa, e outro em função da segurança do transporte. Obviamente que não foi pela segurança do transporte, pois o passageiro expulso do voo, em momento algum ofereceu algum risco a segurança em si do transporte aéreo.
No caso em questão, a cia aérea deverá indenizar o passageiro conforme o escrito na lei, porém isso é irrelevante no momento. O maior problema foi como a empresa escolheu retirar o passageiro “sorteado” de bordo, e sim a United é culpada, e mostramos isso no próximo parágrafo.
Nos Eua, as cias aéreas, em virtude de fatores históricos têm uma autoridade enorme para remover os passageiros, principalmente aqueles que causam problemas, e tudo isso em nome da segurança, e a lei diz que a segurança pode utilizar de todo os meios necessários para remover o passageiro em questão. Quem nunca viu fotos e mais fotos na internet de passageiros sendo dominado, jogado no chão, amarrado na cadeira?
Então quando a cia área decide utilizar a segurança na remoção de qualquer passageiro que seja, ela tem a ciência de que a coisa pode se tornar agressiva e violenta, independente do motivo da remoção, ou seja, a United assumiu o risco quando ordenou a segurança para remover o passageiro de bordo, e por que o passageiro desse voo específico da United não errou?
O passageiro em questão não infringiu nenhuma lei ou regra até o momento de sua recusa. De acordo com os fatos apurados, o comandante da aeronave não foi em momento algum pedir que o passageiro se retirasse, o que levaria a coisa para outro nível. A partir do momento que o comandante ou chefe de cabine solicite que o passageiro se retire, e caso haja descumprimento, isso passa a ser um crime federal, pois você deixa de cumprir as instruções da equipe de bordo, e é aqui que a United se enrola, pois nunca houve instrução da equipe de bordo, e sim uma exigência do pessoal de solo.
Então para resumir até o momento, o passageiro foi corretamente e devidamente embarcado, e após a situação dos funcionários, foi informado que deveria deixar o seu assento, sem ser devidamente instruído a deixar o avião pela tripulação ou seu comandante, mas apenas pelo agente de portão, que por fim chamou a segurança e ordenou a retirada do passageiro.
A segurança agiu com rigor e arrastou o passageiro para fora do avião causando ferimentos no mesmo, que o deixou ensaguentado, e isso foi filmado em vídeo, o que gerou uma revolta por parte da maioria das pessoas que assistiram, e um sentimento de dever cumprido pela United por poucos outros, o que é uma vergonha.
Pior de tudo após esse evento foi a carta que o CEO da United, Oscar Munoz, enviou para o staff elogiando a conduta deles, e que daria todo suporte necessário, embora tenha sido um evento violento, e ele não tenha gostado do que viu, mas ainda assim reafirmou suporte aos funcionários.
Agora vamos a opinião do Blog: Esse evento foi deplorável, uma vergonha, um ultraje a sociedade moderna. Foi uma usurpação de poder por parte da cia aérea que se esconde atrás de uma regulação de segurança para projetar seu autoritarismo e fazer o que bem quiser a bordo. Quem nunca escutou um comissário ameaçar um passageiro e utilizar a desculpa esfarrapada de segurança para ter sua ameaça legitimada? A United não só errou, como persistiu no erro, e a partir do momento que acionou a segurança sabia e tinha plena ciência de a coisa poderia escalar e se tornar violenta, por parte da empresa, pois o passageiro em momento algum ofereceu resistência ou retaliação, tendo apenas ficado estático.
É muito triste ter de ler em alguns blogs americanos a defesa da empresa como se essa fosse vítima de um passageiro louco que estaria deliberadamente descumprindo normas da aviação, que claramente não foi o caso, e ainda tentar jogar a culpa na segurança, como se a United não tivesse nada a ver com isso. Vergonhoso.
Conclusão: O Evento tomou proporções não esperada pelos seus autores, que acreditaram que seriam apenas mais um dia de remoção de passageiros, pois como foi mencionado acima, os funcionários utilizam da cortina da segurança para mascarar suas atitudes erradas. A United se complicou com o vazamento da carta do seu CEO para os seus funcionários, e certamente irá procurar o passageiro para oferecer algum tipo de compensação, e obrigar o mesmo a assinar um acordo de não-divulgação (Non Disclosure Agreement), que é muito comum nesses casos para não fazer a empresa admitir culpa, e deixar que todos os fatos sejam revelados à tona.
É certamente um episódio muito triste na história da transporte aéreo, e que coloca em cheque a reputação da United, que já não é a primeira vez que se envolve e situações desse tipo de autoritarismo, como foi o caso da roupa da menina de legging algumas semanas atrás. Agora, é muito importante que fique claro que a United é a única culpada de tudo que ocorreu, pois a empresa tinha a seu dispor um leque de opções para que mais 1 pessoa saísse voluntariamente do avião em função do “desembarque forçado” e não “overbooking”, como por exemplo oferecer mais compensação, colocar funcionário na cabine do piloto, ou até mesmo no jump seat, que havia um disponível, coisa que ninguém citou, mas no fim a empresa decidiu a remoção a base da força brutal. É muito difícil prever o que vai acontecer, mas é possível que nós aqui do Blog também nos recusássemos a sair do avião, a não ser claro que surgisse uma boa oferta de compensação, algo na casa dos 1.500 USD, porém o valor máximo oferecido foi 800 USD. E você? Qual seria sua reação? Você acha que a empresa agiu justificadamente? Deixe sua opinião abaixo.
*Imagem de capa retirada da internet sem autor identificado.