Esse texto é direcionado somente para os programas de cias aéreas, os famosos programas de milhagem, que foram criados com a intenção de cobrir as “sobras” de assentos para os viajantes mais frequentes. Quando esses programas surgiram foram uma grande sacada para fidelizar clientes, e os programas eram muito bons e bem competitivos entre si, tudo isso porque as empresas “brigavam” pelo negócio de seus clientes.
Minha primeira viagem como cliente elite se deu em 1998, quando então era praticamente uma criança, e como Gold no AAdvantage na época recebi o upgrade gratuito para a Primeira Classe num voo de Boston para Orlando, e foi nesse momento que tudo começou a fazer sentido, e quando decidir continuar com o AAdvantage, que naquela época nem existia o nível Executive Platinum. No entanto naquele momento o ritmo de viagem era muito pequeno, mas continuei acompanhando a minha conta online com a ainda internet discada. 
Em 2007 fui fazer um intercâmbio no Canadá, e foi a partir daí que o ritmo de viagens começou a aumentar, sendo 2008 o meu primeiro ano no nível mais alto do programa da American, o então Executive Platinum, o qual mantive desde então. A partir de então raramente viajava na classe econômica, pois os upgrades internacionais costumavam liberar no momento da compra do bilhete, e os domésticos dos EUA às 100h da partida.
Desde 2013, quando a American saiu do capítulo 11, esse cenário começou a mudar, as disponibilidades ficaram mais difíceis, porém ainda era possível conseguir uma coisa ou outra com antecedência. Nesse ano os programas da Delta e United passaram a ser Revenue, e desde então o programa da AA foi considerado o melhor por dar mais milhas, e começou a receber vários prêmios da indústria, entre eles o famoso Freddie Awards.
Porém a partir de 2014 com a nova administração da American, o programa começou a modificar alguns aspectos, sendo em 2015 o grande anúncio da mudança para Revenue que ocorreu em Agosto do ano passado. Com isso o melhor e praticamente o último programa que ainda valia a pena morreu, e isso de certa forma colocou em evidência o Latam Fidelidade do Brasil, que então adotou um padrão perfeito, revenue para voos domésticos, e distância para voos internacionais, mas isso morreu também com sua última modificação, e ainda passando a basear sua tarifa em dólar, para remunerar menos os seus clientes.
Foi focado aqui na trajetória do AAdvantage como base, mas fica claro que atualmente as administrações dos programas não entendem mais a sua função, e tentam utilizar o mesmo como um novo negócio para lucrar, como foi o caso do Multiplus. Então, a partir de agora, deixa-se de agraciar o cliente para utilizar esse programa para lucrar em cima dele, porém existe um erro básico nessa lógica. Programa de milhagem para fidelizar é diferente de programa de milhagem para lucrar. Por que? Porque no primeiro caso não existe prejuízo, pois você está concedendo ao cliente “sobras”, e com isso atraindo mais clientes e por conseguinte aumentando o faturamento da empresa. No segundo caso é necessário um comércio, a empresa autônoma, Multiplus ou Smiles ou que seja, necessita pagar pelos pontos do cliente para a empresa aérea ou parceiro comercial e então torcer para que o cliente ou jogue esses pontos fora através de uma troca ruim, ou então os deixe expirar.
No entanto os programas de milhagem estão tendo lucros recordes, e justamente devido a expiração dos pontos ou milhas, porque justamente a disponibilidade está mais difícil, e por vezes os programas conseguem vender pontos por valores atrativos que acabam por direcionar o prejuízo para a empresa aérea. Com isso as empresas ainda estão sobrevivendo, mas estou prevendo um cenário obscuro para esses programas. Por que? Porque o que valorizamos em um programa de milhagem? Basicamente são duas coisas, upgrades e prêmios de passagens, e o cenário está para mudar radicalmente com a entrada dos bancos nesse mercado.
Os Bancos estão começando a entrar e forte nesse mercado produzindo cartões com benefícios cada vez mais próximos de programas de milhagem em seu último nível, e aí que entra a questão. A partir de agora, será muito melhor ter um cartão de crédito, mesmo que com uma anuidade razoável, com bons benefícios do que ser leal a um programa de milhagem. Essa situação é especialmente aplicável a maioria dos viajantes, que fazem poucas viagens no ano, e com um bom cartão não precisam se preocupar com as qualificações elite, podendo então comprar uma passagem em classe econômica, receber os pontos do cartão normalmente e utilizar benefícios como lounge, embarque prioritário, e outros.
Essa situação está em pleno desenvolvimentos nos Estados Unidos, quando então o passageiro deixa de escolher uma empresa aérea em função de sua fidelidade e passa a utilizar o melhor preço, por exemplo, uma pessoa que tem o American Express Platinum nos EUA, tem 400 dólares para gastar com cia aérea, então a pessoa pode adquirir um bilhete de classe econômica, pagar o upgrade que será coberto pelo cartão, e ainda ter acesso a sala vip do próprio cartão. Com todos os programas tentando lucrar em cima do passageiro, e com isso diminuindo seus benefícios, a melhor lealdade passa a ser o seu bolso, e os bancos já perceberam isso, utilizando do seu aparato para criar produtos que direcionem a sua lealdade para o Banco ao invés da empresa aérea, e a pergunta que antes era “Qual o melhor programa de fidelidade para voar?” está sendo aos poucos substituída pela pergunta “Qual o melhor cartão de crédito?” inciando uma era de sufoco para as empresas aéreas que ainda tem o seu programa de fidelidade em suas subsidiárias como o caso das empresas americanas, e limitando o lucro das empresas de pontos autônomas como o caso das brasileiras, e o novo cenário que começa a se desenhar nessa área é o fim dos programas de milhagem/fidelidade, e o início da era dos cartões de crédito turbinados, aqueles que estão surgindo para tomar o mercado. O final dessa história só o futuro dirá, enquanto isso continuamos aqui escrevendo sobre os programas atuais, e desejando você uma excelente viagem.