Nos bastidores do competitivo mercado de passagens aéreas, uma prática silenciosa pode ter gerado um dos maiores prejuízos já vistos no setor. O caso ficou conhecido informalmente como “Deságio Azul” e, segundo informações de mercado, causou um prejuízo estimado superior a R$ 20 milhões.
Como funcionava a operação?
A operação era conduzida por um conhecido fornecedor de passagens, inclusive com ex-sócios com nomes conhecidos no mercado. O modelo explorava uma combinação específica de fatores envolvendo a companhia aérea AZUL e a forma de emissão de passagens utilizando pontos + dinheiro.
Segundo relatos, o passo a passo era o seguinte:
- Emitia-se uma passagem na modalidade pontos + dinheiro, com o pagamento em reais sendo feito separadamente;
- Utilizava-se cartões de crédito sem limite disponível (limite zerado, R$0,00) para tentar realizar o pagamento da parte em dinheiro;
- Mesmo com o cartão recusando o valor, a reserva era confirmada e ficava ativa no sistema da companhia aérea;
- O valor pendente permanecia “em aberto” e era quitado somente na véspera da viagem, quando então o cartão precisava estar com limite disponível.
Esse processo explorava uma brecha operacional da própria AZUL, que permitia manter reservas confirmadas por longos períodos mesmo sem o pagamento efetivo em reais — algo incomum no mercado aéreo e que pode ter favorecido o avanço do modelo.
Onde a estrutura ruiu?
O “deságio” que dava nome à operação vinha do fato de que os bilhetes eram revendidos a preços muito abaixo do custo de emissão (em torno de 30%), com a aposta de que o giro de caixa cobriria os compromissos futuros.
Contudo, esse modelo tornou-se insustentável com o tempo. Quando o fornecedor não conseguiu mais arcar com os pagamentos pendentes às vésperas dos voos, as reservas passaram a ficar com pagamento pendente – e, consequentemente, com o pagamento pendente não havendo embarques, atingindo agências, revendedores e passageiros.
A estimativa de prejuízo circula em torno de R$ 20 milhões, impactando empresas e consumidores em todo o Brasil.
Uma falha sistêmica?
Embora o fornecedor tenha sido o pivô da operação, ouvimos o especialista em passagens aéreas Victor Bazilio que aponta que a companhia aérea AZUL também precisa ser olhada com atenção. Afinal, como um bilhete pode ficar confirmado por semanas ou meses sem o pagamento ter sido concluído?
Essa fragilidade no processo pode ter criado o ambiente perfeito para que uma operação de grande escala fosse mantida sem sustentação financeira real.
O que fica de lição?
O caso “Deságio Azul” ainda está em análise por muitos no setor, mas já deixa alguns alertas importantes:
- Desconfie de valores muito abaixo do mercado — preços irreais geralmente escondem riscos reais;
- Verifique sempre a política da companhia aérea quanto a confirmações e pagamentos de bilhetes emitidos com milhas;
- Evite fornecedores que prometem pagamento “só depois”, especialmente se o valor da compra for significativo.
O Mestre das Milhas continuará acompanhando os desdobramentos desse caso. Mais do que buscar culpados, é hora de entender como prevenir que práticas semelhantes voltem a acontecer, protegendo tanto o mercado quanto os consumidores.
O espaço permanece aberto para manifestação da companhia aérea AZUL sobre os pontos abordados nesta reportagem. Caso a empresa queira se posicionar, seu pronunciamento será incluído nesta publicação tão logo seja enviado.