O erro das empresas em insistir na troca da fidelidade pelo capital

[dropcap]U[/dropcap]m movimento muito comum nos programas de fidelidade é a sua conversão em programa de capital, ou seja, aquele que antes recompensava com base na sua assiduidade em fazer negócios com a empresa passou a recompensar na soma da transação financeira. E por que isso é um erro?

Parece que as empresa esquecem que existem escolhas, e um caso clássico que só agora está sendo provado é o do AAdvantage. Todos sabemos que a American Airlines nunca foi uma cia aérea flagship, embora essa utilize o nome, e muitos usavam de forma frequente a empresa justamente em função do seu programa de fidelidade.

Pois bem, desde 2017 o programa passou a ser com base no gasto e ainda exige um gasto mínimo para conceder o nível elite, e no caso do nível máximo são 15 mil dólares, ou pouco mais de 60 mil reais na cotação de hoje. O que aconteceu?

Uma debandada assustadora de clientes, tanto que a cia aérea tem feito promoções com “Challenges” mais frequentes e depois de alcançar lucros recordes está bem próxima de começar a dar prejuízo. Sua ação está na mínima histórica e tudo isso depois do CEO afirmar que a American jamais perderia dinheiro de novo.

As empresas parecem não conseguir compreender uma questão básica, que é justamente a de escolha, e quem tem mais escolha? É justamente quem possui mais dinheiro. Um bom exemplo disso é que uma passagem de primeira classe entre NY e Sydney custa tanto na AA e na Etihad o mesmo valor, 20 mil dólares americanos. Se você pudesse escolher, voaria JFK – LAX – SYD em primeira classe com a AA ou JFK – AUH – SYD na primeira classe da Etihad no Apartamentos?

Uma constatação é que as cabines superiores da AA tem saído ou vazias ou cheias de funcionárias o que ficou conhecido nos EUA como “NONREV PARTY BUS”, pois ninguém aguenta pagar pela má prestação de serviço da empresa e ainda não conseguir nada de volta no seu programa de fidelidade.

E olha só que curioso, e justamente aqueles passageiros fiéis que estavam sempre com a cia aérea estão abandonando navio, com alguma exceções, por que não existe mais fidelidade. Agora vamos pegar tudo isso e trazer para o mercado brasileiro.

A Latam também colocou a cláusula de gasto mínimo, porém deve trazer novidades em breve com a fusão do Latam Fidelidade e do Latam Pass trazendo um só programa para todos os passageiros independente de sua residência na América Latina. Aproveitamos a oportunidade para externar a Latam como será bom se a mesma prestigiar a lealdade, ou seja, aquele cliente que está sempre comercializando com ela, do que aquele que gasta muito de uma vez só.

O erro é acreditar que aquele cliente que mais gasta com a empresa é fiel a ela, e isso nem sempre é verdade, enquanto que o verdadeiro cliente fiel quase que em 100% das vezes prefere pagar mais caro para voar com a sua cia preferida. E daí vem a pergunta principal, com quem você, empresário, gostaria de fazer negócio? A resposta correta é ambos, pois não podemos perder negócio nunca, mas o privilégio ou benefícios de uma qualificação de clientela deve ser por aquele que prestigia o seu negócio em detrimento dos demais.

É como se fosse uma grande pirâmide, os clientes que valorizam o programa de fidelidade formam a base da pirâmide, e direcionam o seu negócio para onde ancoram sua lealdade, já os clientes com maior capacidade financeira são aqueles que ficam no topo da pirâmide e praticamente não existe fidelidade, sendo que muito deles nem inscrição no programa possuem.

E aí fica o questionamento final? Qual parte da pirâmide você gostaria de ter leal ao seu negócio? A American escolheu o topo e não está indo bem, estando bem próxima de perder o título de maior cia aérea para a United ou Delta, isso é fato. 

Agora é a hora da escolha da Latam, que tem uma excelente oportunidade na renovação do seu programa de fidelidade, qual base da pirâmide será que ela vai escolher?

 

Eloy Fonseca Neto

Eloy da Fonseca Neto é apaixonado por viagens, e utiliza dos programas de fidelidade para levar sua família ao máximo de lugares possível. Criou o Blog Mestre das Milhas ao notar a falta de informações sobre pontos e milhas no Brasil, com a intenção de auxiliar a todos para que possam realizar cada vez mais viagens, e sempre ao lado de seus entes queridos.

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