[dropcap]2[/dropcap]020 começou, mas os programas de fidelidade parecem estar enterrando a “fidelidade”, e isso porque a atual configuração dos programas estimula que você seja justamente infiel. Infelizmente as cias aéreas tem um olhar equivocado, talvez manchado pela ganância, sobre os programas de fidelidade.

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Em se tratando do aspecto de fidelidade, surpreendentemente os melhores programas no Brasil são justamente o Smiles e TudoAzul. Por quê?

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Ora, com apenas 30 *trechos ou 30 mil pontos você atinge o status máximo do Smiles, o que ainda pode ser mitigado pelo uso do Clube 10 mil ou 20 mil. Já no TudoAzul com 20 mil pontos qualificáveis você vira o máximo do programa.

Vejamos que no Smiles ao chegar a diamante você tem Sala Vip, teto de emissão de prêmio, ganha mais milhas, antecipação de voo, check-in prioritário, maior franquia de bagagem, tem uma passagem de acompanhante grátis no ano. Para quem viaja dentro do Brasil vale a pena sim utilizar o Smiles pelos benefícios, pois é possível conseguir chegar lá com 15 viagens de ida e volta ou combinando voos das parceiras com a GOL.

Os benefícios para uma cia aérea doméstica são bons, o programa Smiles peca justamente na sua tabela de resgates para parceiras internacionais, no mais é um bom programa de benefícios para quem voa bastante dentro do Brasil.

Agora vamos verificar o TudoAzul, que é o programa com a maneira mais fácil de chegar no status máximo diamante, pois são apenas 20 mil milhas qualificáveis, sendo que quase toda atividade conta para qualificação. Por exemplo uma transferência de 300 mil pontos para o Tudo Azul já te dá o status diamante na hora.

É preciso ressaltar que o programa TudoAzul é o pior programa para resgate de parceiros e até mesmo na própria Azul em trechos internacionais cobrando valores altíssimos, mas para quem viaja somente no setor doméstico pode valer a pena pela capilaridade da Azul e seus benefícios de espaço Azul. No entanto os benefícios são fracos, pois a empresa não possui lounges, e a questão de receber mais pontos é quase irrelevante já que o valor desses pontos é muito baixo.

Em termos de benefícios o Smiles está melhor posicionado no mercado brasileiro. Já a Latam está com um problema, pois a empresa tem super benefícios para os elites, mas dificulta muito a chegada do cliente lá em função do gasto mínimo exigido.

Sem dúvidas o Latam Pass Black Signature é o melhor status elite de todos os programas brasileiros, porém é muito difícil chegar lá, não pode fidelidade, mas pelo gasto. O mesmo ocorre com a American Airlines e United nesse ano.

Contudo no programa da American ainda é possível contornar a questão do gasto voando com parceiras em cabines de econômica premium e executiva. Então perceba que as cias aéreas estão gradativamente trocando a fidelidade pelo gasto e isso é ruim economicamente para elas próprias. Por quê?

Ora, quando você tem uma forma de chegar num determinado nível voando, mas sem a necessidade de gasto estipulado, a pessoa que gostaria de chegar lá certamente irá gastar mais com a cia aérea do que devia, e um grande exemplo disso são as Mileage Runs. 

Se vocês pegarem o gráfico do valor do lucro da American Airlines chega a ser uma coincidência incrível, porque o lucro começa a cair justamente da mudança do programa, e isso acontece porque aquelas pessoas que não precisavam viajar irão deixar de gastar dinheiro somente para atingir o status elite, o que em alguns casos valia muito a pena.

Como meu grande amigo Rodrigo sempre diz, existe uma coisa que os executivos das cias aéreas precisam entender: “Nem todo mundo precisa viajar”, logo muitos não irão em função do valor exorbitante das passagens ou irão contratar um meio alternativo como trem e ônibus, e o fiel da balança era até então justamente o programa de fidelidade.

Já a pessoa que precisa viajar de qualquer forma vai pagar o preço exigido e para ela pouco importará o programa de fidelidade, isso na maioria dos casos, pois um ou outro presta atenção nessa questão. 

O Dr.Luiz Danna sempre foi muito preciso em afirmar que o programa de fidelidade nada mais do que uma distribuição de sobras, e ele tem toda razão, a cia aérea só vai fazer upgrade se não tiver vendido o assento, no entanto os executivos problematizaram essa questão ao tentar monetizar em cima das sobras, e por consequência desestimulando a fidelidade.

Com isso quem estava acostumado a voar para obter um status elite vai deixar de fazê-lo, e não só no Brasil, mas no mundo. E aí vem aquela pergunta: Será que o valor perdido desses clientes não faz falta a cia aérea? E pode ser ainda pior ao pensar que como esses clientes ajudavam a manter o avião cheio, o algoritmo de tarifas ainda aumentava aquela em função da ocupação do avião. 

Como essa mudança é recente, as empresas ainda não sentiram as consequências dessa mudança, com exceção da American Airlines que está amargando para manter um resultado positivo. A United passou a adotar o método dinheiro apenas para contagem elite e acreditamos que a empresa irá sentir o peso disso em 2021, pois em 2020 ainda tem aqueles que se qualificaram em 2019.

Obviamente que levando em consideração todo o universo de passageiros o número de pessoas que lidam com isso é pequeno, cerca de 12%, mas daí surge outra pergunta: Um bom CEO não deveria prezar por todos os números, inclusive os 12%? 

A verdade é que ao eliminar a fidelidade a cia aérea elimina junto uma parte de faturamento daqueles clientes que não precisavam voar, mas voavam para manter um status elite e ter benefícios coerentes durante suas viagens, porém com toda essa mudança, esse pessoal não vai viajar mais, os aviões vão por consequência ter uma lotação menor, as tarifas não irão aumentar de forma rápida e sequencial diminuindo significativamente o faturamento da empresa.  

Ainda sim é vantajoso para certos perfis de viajantes buscar o status elite tanto na Azul como na GOL, conforme mencionado anteriormente, porém nos demais, somente se for fazer sentido na vida do viajante, como o caso daquele que utiliza parceiras da American para qualificar nela, o que também é ruim para a empresa já que o cliente irá voar com a parceira ao invés da principal.

Devido a tudo isso, durante 2020, não iremos buscar status elite, mas sim aproveitar as passagens de oportunidade, que se tornam cada vez mais valiosas, lembrando que quem viaja de executiva ou acima não necessita de status elite de qualquer forma. Infelizmente 2020 é o ano que a fidelidade se encontra na UTI. E você? Concorda ou discorda? Deixe sua opinião abaixo!